Quem conhece um pouco melhor o Reino Já Cheguei e a nossa «real» família/família real, sabe que tivemos um gatinho com péssimo feitio. O Sushi:
Nasceu a 11 de Abril de 2000 e chegou a nossa casa com cerca de 1 mês de idade.
Tinha um péssimo feitio. Arranhou a rainha deste reino várias vezes (teve até que ir ao hospital uma das vezes), fez sangrar o lábio a um veterinário, fazia um barulho horrível nas consultas (desde pequeno). Lembro-me de uma vez, quando estavamos a sair do consultório, alguém, na sala de espera dizer:
«Era este gatinho tão pequenino que fazia aquele barulho todo?»
Um vez conseguiu tirar um peixe de um aquário redondo com uma pata. O peixe teve a sorte de voltar a cair no aquário (isto também aconteceu no veterinário).
Em casa, nada resistia: cortinas, objectos em cima de móveis, arranhava e mordia quem lhe passava perto...
Com o nascimento dos príncipes tivemos que o prender com uma trela dentro de casa.
Sim... é horrível, mas era essa a única solução...
Não o iríamos dar ou abandonar. Ele era nosso. Assumimos o compromisso de ficar com ele.
Depois de várias centenas de euros no veterinário ao logo de quase 10 anos ele faleceu em Janeiro deste ano (dia 4) com falha renal, cardíaca e respiratória. Fizemos sempre tudo o que podíamos por ele. A restante família contribuiu monetariamente também para que não lhe faltasse nada...
É um dos personagens do nosso Livro de Histórias - Lord Sushi:
Se virem bem há lá também um gatinho laranja chamado Malvadísco :)
Passaram-se 5 meses. O cantinho do Sushi continuava vazio.
Eu, fui criada sempre com animais domésticos e o rei não. Tive um cão que viveu 18 anos, eu tinha 2 aninhos quando os meus pais deram 500$00 por ele. Nesse dia já não fomos ao cimema.
O meu sonho era ter uma gatinho cor de laranja (sabe-se lá porquê) mas como ao longo da minha vida sempre fiquei com os que iam aparecendo... nunca pude escolher. O que não é necessariamente mau :)
A ideia de ter outro gato rondava-me. A nossa princesa Joana (2 anos) continua a falar no Sushi como se estivesse vivo. Sabe a teoria... sabe que foi para o céu dos gatos e que é uma estrela...
Nunca se esqueceu de quando o vimos pela última vez com vida:
«O Sushi tem fraldinha igual à Jojó»
(Estavam a tentar recolher urina para análise)
Eu já tinha visto alguns sites de adopção e fotos de gatinhos para adoptar (também no Facebook)...
No sábado passado tive a coragem de fazer um telefonema.
Havia um como eu queria. Era laranja e branco. Não me interessava o sexo do bicho, interessava-me um gatinho laranja...
«Não lho posso reservar, entrego-o a quem o quiser levar em primeiro lugar.»
Claro, eu compreendia isso perfeitamente...
Reunião de emergência na sala real.
Pedinchei ao rei. Fomos sem compromisso... Fizemos 50+50Km (ida e volta).
Esperámos mais de mia hora para falar com a voluntária que me atendeu o telefone.
Fomos 4 e viemos 5.
Fiquei espantada com a «favela» que era aquele canil. Vários portões nos separavam da entrada até ao gatil. Os cães fugiam constantemente e assim nunca voltariam para a rua.
O cheiro... Enfim... Por mais que limpassem não sei se melhoraria...
Tantos cães meu Deus!
Aquelas pessoas, voluntárias, nunca paravam... Limpa, esfrega, alimenta, sacode, lava, estende, arranja, substitui, desenrasca. Havia partes de gaiolas a tapar buracos dos portões.
Havia dois homens a tapar um buraco no tecto da enfermaria.
Finalmente ela pôs-mo no colo. Não o quis encostar a mim... Não estava habituada a ter um gato perto dos meus olhos sem que me tentasse arranhar.
«É um bebé, encoste-o a si» - disse ela.
E assim foi... Deu-se a ligação...
Os nossos filhos foram de surpresa. Explicámos ao Tiago onde estávamos e o que faziam ali aqueles cães todos.
«Eu nunca vou abandonar um animal» - disse ele.
Com o gatinho no colo, olhei para o rei:
«O que fazemos?»
O que podíamos fazer? Que espaço ocupava ele na nossa casa, comparando com o espaço que todos aqueles animais ocupavam ali?
Ele já não queria voltar para a transportadora onde estava...
Estávamos todos desejosos de sair dali. Apesar da boa vontade e do trabalho de quem ali passa horas e horas, não queríamos ficar ali mais tempo...
Assinámos e preenchemos os papéis necessários. Fujimos dali.
Esta visita fez-me valorizar ainda mais quem lá trabalha e é voluntário.
Ouvimos dizer que foram DEVOLVIDOS GATOS porque não ficavam bem com a cor dos sofás ou porque faziam muito barulho a fazer cocó!!!
Haja humanidade!
A verdade é que este gatinho é especial, nasceu na cama da voluntária do gatil e é REALmente da nossa família.