Gosto de ficar a observar as palavras. Gosto de as estudar. Gosto de ver como se comportam. Gosto de as lembrar (e como tenho boa memória!) Gosto de conhecer os seus hábitos. As suas manias. Fico à espreita, sem fazer barulho. Quieta. Espero pacientemente que se habituem à minha presença. Não é fácil. Umas são como cristais, outras como punhais. Há ainda as silenciosas, que muitas vezes são difíceis de perceber. Há também as que foram escritas nas entrelinhas. Há palavras que serpenteiam, outras que se enrolam sobre si próprias quando não querem ser reveladas. Fecham-se na sua concha. Escondem-se nas tocas. Há palavras que nos beijam. Muitas podem ser a senha da vida (adoro essas!). Podem também ser a razão da morte. Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer. Estritamente reservadas para companheiros de confiança. Muitas vezes conserto-as com todos os sentidos em silêncio. Restauro-as (até para não me magoarem muito). Dou-lhes um som para que me falem por dentro. Ilumino-as. Com palavras (muitas vezes inaudíveis) grito para rasgar as tristezas que sinto. Outras ficam de orelhas em pé, mostram as garras e os dentes. Rosnam. Há aquelas que dão coices, magoam. É preciso cuidado. Já fui atacada por palavras várias vezes e as feridas demoram muito a cicatrizar. Mas não desisto. Chego a tomá-las à noite em comprimidos para adormecer o cansaço. Gosto quando me abraçam e me enchem o coração. Gosto quando se habituam a mim, quando se empoleiram no meu ombro e fazem ninho no meu coração. Gosto quando se deixam conhecer. Gosto quando vêm comer à minha mão. No meio delas encontro sempre o mundo inteiro.
O nosso reino é tudo isto, e muito mais...
«Contos de fada são mais do que a verdade. Não porque eles nos dizem que dragões existem, mas porque eles nos dizem que dragões podem ser derrotados.»
~ Neil Gaiman ~
quinta-feira, 5 de julho de 2018
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