Vamos lá a ver uma coisa, se os chineses inauguraram um novo ano, o ano do Porco, o que é que me impede a mim de começar um novo ano em qualquer altura? Pode ser agora? Talvez amanhã? Na sexta-feira!
Ainda por cima tudo me obriga a recomeçar uma vez atrás da outra... Conspira e obriga!
Eis como tem sido desde o primeiro dia do ano:
-Vou ter que arranjar energia para recomeçar. Dias depois:
-Ora bolas, ainda agora pensei que tinha recomeçado e já estou outra vez metida num imbróglio. Na semana seguinte:
-Será que é desta que vai começar tudo a fluir sem esforço? Depois de um telefonema (por exemplo):
-O quê?! A sério? Buáaaa! – and so and so on…
Parece que sempre que recomeço, algo me obriga a tomar nova decisão de recomeçar ou desistir... Os caminhos parecem ir sendo cortados... Não vão dar a lugar nenhum... pelo menos ainda.
42 dias depois do ano ter iniciado… ainda estou no mesmo registo.
É claro que estamos sempre a observar e a ajustar a nossa trajetória, mas há alturas em que isso não me parece tão evidente… tão necessário.
Onde está o cardápio para eu poder pedir algo mais leve a seguir? Algo mais doce... até mais calórico...
Há alturas na nossa vida que exigem uma coragem brutal.
Além da coragem necessária para vencer o nosso déspota interno, o medo, o controlo durante certas alturas, acumulamos a coragem para recomeçar quase diariamente.
Há muitas formas de morrer, mas há apenas a meu ver uma única maneira de viver. E essa exige coragem.
Sobre as formas de morrer, a mais triste é a morte lenta e o desapercebido suicídio lento que consiste em recusarmo-nos a mudar. Mudar de vida, de casa, de trabalho, de padrões, de objetivos, de crenças, de autoimagens, de perspetiva, de atitude, e de tudo aquilo que acaba por ser uma extensão e consequência das nossas feridas antigas e ainda não curadas.
Cada vez que recomeçamos, ao tomarmos essa coragem como escudo, estamos a deixar uma velha vida (ou parte dela) para trás. Ao aceitarmos as mudanças renascemos.
Não posso/podemos desistir de acreditar e de lutar. Não nos podemos autobloquear. Não podemos deitar a toalha ao chão a dizer que não vale a pena, que não é importante, nem urgente, nem necessário (isto não quer dizer que eu nunca o tenha feito). Não nos podemos tornar mortos-vivos, zombies que desistiram de viver escolhendo a morte interna, silenciosa e lenta.
Escolho mudar. As vezes que forem precisas. Mesmo que ainda não me sinta capaz de o fazer.
Não quero começar a morrer lentamente enquanto manipulo acontecimentos e os disfarço de cúmplices e aliados do meu próprio plano de suicídio.
E tu, o que escolhes?
Pessoalmente, preferia que escolhesses viver evitado teres que andar com uma placa semelhante ao pescoço...